felling

é proibido teorizar a incontrolável dor da sodomia cotidiana
fica decretado sodomizar a cor do cinza escuro da cidade
pelas ruas só está liberado o verde morto das folhas caídas
pelas matas é proibido todo tipo de concreto verde mato

corações perambulam engomados em paletós apertados
rastejando de lá para lá sem ousar conhecer o cá
olhos vermelhos de raiva e conformização pelo não
todas as formas de não enrustidas nos sins inigmáticos

nas mochilas a esperança para outros tantos corações
esperança nos caminhos libertinos de liberdade anarquista
sem entender nada encarceram-se na mais falsa fantasia
não, ela não está lá fora, é esse o maior sim travestido de não

portanto está proibido o talento dos artistas que não sabem do não
fica decretado a morte da inibição e a concretização da liberdade
que voem as mentes sem talento e explodam as técnicas restritivas
que sodomizem todos os nãos da sociedade sem vaselina
que liberem os bonecos de pausinho e as casinhas com chaminés

e que o mundo decrete o fim absoluto
pois só aceitando a decadência
é possível revolucionar nossa essência

escombros

eis que chega o momento
vejo, claro, nítido e remelento
é hora de parar o vento, seguir a vida
não há mais espaço para lamentos

sobraram pó, ruínas e caos
sobre entulhos de sentimentos
subjugam-me velhos conhecidos amigos
insegurança, desejo, medo

que venha varrer com furacões
embriague-me com inúteis poções
para que eu lute, municie meus canhões
afunde-me em perdidas novas paixões

nasça em meio aos escombros
a inanimada flor das ilusões

falta de ar

basta
essa falta de ar
ardência infinita de amar
baste essa memória
saudades dos tempos que não foram de gloria
infinita saudade
basta de tanta realidade

basta ser para viver
sentir para morrer
viver para não entender
basta ver
não basta, nunca bastou
amar, sentar e morrer

bastam os versos ausentes
dos poetas como eu
dementes, carentes, incoerentes
basta ser um pouco gente
basta, basta, basta

obrigado pelas doces palavras
poema profundo que difama minha alma
abismo imundo onde perdi minha calma
sóbrio vagabundo, para lama clama
e se engana

tudo é mentira
basta acender a luz e revelam-se as cordas
basta fechar as cortinas vermelhas e mortas
basta o show não continuar
e a peça pode acabar
serei apenas mais um
dando um basta por tanto amar!

isso

veja isso
sinta isso
lembre disso
de adeus a isso

não preciso mais disso
não agüento mais isso
vivo com isso
morrerei disso?

o que me resta com tudo isso
palavras inconformadas no bar
indagações sobre a razão de amar
ao inferno com tudo isso

epiderme efervecendo
olhos convalescendo
coração estremecendo
o sangue corre ardendo

poderia viver apenas disso

queria ser livre

aprendi a ter coragem
mergulhar na escuridão
sem nada para me segurar
e ninguém para me estender a mão

aprendi a sofrer calado
para que tudo fosse mais intenso
e esse dolorido pesadelo
não fosse tão imenso

aprendi a viver sozinho
sempre cercado de amigos
curtindo ao máximo meu espaço
mas me faltava um pedaço

aprendi a sentir falta
no começo é difícil dói demais
depois com o tempo passa
a gente vai se sentindo mais capaz

aprendi a ser livre
então me vi solto para o mundo
mas preso a mim mesmo
nesse esse amor louco e profundo

agora livre consigo perceber
de tudo que aprendi nesse ano
a única coisa que precisava saber
é que preciso de você para viver!

vida e merda

então me tornei gente
puxado para o mundo sem aviso
sujo entupido e desprotegido
uma maquina “pensante”
de fazer coco

então me tornei menino
ainda fazendo muito coco
porém agora mirava no fundo da privada
mas foi cagando pra fora
que aprendi a dar uma limpada

então me tornei jovem
já limpo e cheiroso
uma maquina pensante andante e amante
sempre esbarrando de cara
na bosta avuante

então, me torno homem
decido deixar toda essa merda para trás
e mais feliz que nunca antes
posso finalmente cagar em paz

meu lugar

resolvo flutuar
pois nesse morno e cristalino mar
no qual por tanto tempo
hesitei em me deixar levar
hoje encontro o meu lugar
de onde eu nunca deveria ter saído
onde nunca mais deixarei de flutuar

flutuar

estou sonhando acordado
mesmo os pequenos pedaços de realidade
não são capazes de me fazer acordar
desta fábrica de núvens
na qual me deixei afogar

porém mesmo afogado ainda sinto o ar
meu corpo imerso percebe as mão secas
pois ainda me agarro em algo real
personificado no maior sonho
que já ousei sonhar

agora não sei como sempre
que caminho devo seguir

me deixar afundar
na escuridão desse mar?
deixar sua mão me puxar?
ou simplesmente
flutuar!

Deus em seu olhar

prucurei Deus nos livros
aonde muitos acreditam
encontram-se todas as respostas
mas me deparei com palavras
embaralhadas em frases dispostas
de maneira a me conformar

tentei encontra-lo em lugares
fui o mais longe que poderia chegar
novamente ele não foi me encontrar
carregando lírios brancos como as nuvens
de braços abertos para me ajudar

então apelei para as coisas da vida
e procurei em minhas lembranças
momentos em que Deus podeiria estar

desta vez me distrai ao te encarar
sorrindo aquele sorriso tão familiar
e logo me esqueci completamente
o que estava a procurar

a luz

a luz
enaltece
envaidece
enlouquece

a luz
entrega
sonega
cega